A produção de gado como é conhecida hoje sofreu várias mudanças em quatro décadas. O histórico da pecuária de corte mostra que, até os anos de 1970, a produção não tinha controles de animais, de áreas e de alimentação, por exemplo. Somente após o desenvolvimento de uma área braquiária pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), essa realidade mudou.
Após a padronização do pasto, um principal acontecimento melhorou a produtividade. Segundo professor da plataforma Solution, Thiago Bernardino, nesse período se iniciou a importação do gado indiano zebuíno, uma raça mais rústica que se adaptou ao cerrado brasileiro.
Nesse contexto, a Embrapa entrou com novos sistemas de pastagem, próprios para o clima do cerrado. “Foi um período importe porque tivemos também o crédito rural. Rodava-se muito dinheiro para se desenvolver o interior do Brasil, principalmente nos planos do agronegócio”, explica.
Uma grande transformação ocorreu nas indústrias, principalmente as de porte nacional, que começaram a investir em tecnologia. “Entretanto, a chegada da década de 1980 deve ser considerada um período perdido”, analisa Bernardino.
Ele explica que investimentos errados, doenças bovinas e má administração estagnaram a produção, que se arrastou até o Plano Real. “Com esse tempo ruim juntou-se a inflação diária da moeda, um mau controle da qualidade animal e sua genética e da qualidade do pasto, que tinha baixa mineralização”, pontua.
O gado era também considerado uma reserva de valor, continua o professor, já que seu preço acompanhava o da inflação e possuía boa demanda no mercado. “Mas não existia um controle da qualidade dessa carne, já que um animal costumava passar até dez anos no pasto. Foi preciso mudar essa forma de produzir”, conta.
Renda acompanha o peso
Ao contrário de tempos anteriores, hoje um animal vive em média três anos no pasto, pois assim otimiza o investimento em tecnologia e economiza investimento em terras graças a rotatividade de gado que ocupam o espaço.
“Em 2006, no mato grosso, cerca de 63% do gado era abatido com mais de três anos. Hoje, quase 80% é abatido até os três anos. Isso tem relação direta com a exigência do mercado por uma carne de melhor qualidade e por conta do aumento no custo de terra”, explica.
Antes do Plano Real, não havia essa preocupação. Com preços acompanhando a oscilação da inflação, cabia ao pecuarista escolher o momento de venda do animal, fosse em curto ou longo espaço de tempo. Na época, muitas corretoras facilitavam o investimento no boi gordo, o que ajudava a tratar o produto como moeda de troca.
“Para se ter uma ideia, o boi hoje é vendido a 150 reais a arroba. Antes disso, era vendido a 500 na moeda deflacionada. Então a imagem do pecuarista rico é dessa época. Quando se tirou a inflação ele se tornou um produtor comum, que precisa produzir mais com menos”, ressalta Bernardino.
Verdadeiras mudanças
Quando tudo se estabilizou nos anos 1990, uma crise da pecuária se instalou. As atividades mais empresariais, como o cultivo da cana-de-açúcar, começaram a ganhar mais ambiente, deixando pouco espaço físico para o ramo do boi. “Mesmo que rentável, a pecuária não podia expandir mais sua área por conta de preservação contra desmate.”
O professor contextualiza uma produção que precisou investir em mais tecnologia, genética, pasto, alimentação e sanidade para suprir a limitação de terra. Para isso foi preciso também uma inovação da gestão, para o produtor entender seu controle de custos e conhecer sua atividade.
Comparado ao restante do mundo, o índice de qualidade brasileira em questão de produção ainda está abaixo da média. Para o professor, porém, com os esforços para aprimorar a pecuária, o país tem grande potencial de crescimento.
“Toda essa transformação da pecuária veio forçando o pecuarista buscar informação, tecnologia e conhecimento. Só é importante lembrar que quem não faz contas, literalmente, não conseguirá acompanhar tantas mudanças”, ressalta.
Produtividade
Bernardino aponta um erro comum de análise do mercado de pecuária de corte. O que costuma acontecer, segundo ele, é uma crença de produção simplificada, na qual apenas a quantidade de animas parece contar.
Uma fazenda, entretanto, é constituída por UA (unidade animal)/hectare. Ou seja, cada UA é igual a 450, que pode ser mais de um animal. “Uma fazenda tem boi gordo, boi magro, bezerra, novilha, vaca gorda, vaca parida, etc. Somamos tudo para se obter as UAs”, explica.
A média brasileira é 0,99 UA por hectare, o que pode ser considerado baixo. Para ser cada vez mais produtiva, uma fazenda precisa ter uma UA de 2 a 2,5. “Se pegarmos um boi gordo, por exemplo, temos um animal por hectare. Isso é pouco considerando o tamanho que um hectare tem.”
Para ter mais animais, o professor explica que é necessário mais pasto e mais alimento, para assim conseguir alimentar a unidade a que se pretende chegar. “Por isso a tecnologia se torna tão importante. Com ela saberei aonde e como chegar. É dessa maneira que a nossa pecuária poderá realmente crescer nos próximos anos”, finaliza.
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