Cada produto tem sua particularidade quando se trata de comercialização de matéria prima, inclusive a cana-de-açúcar. No setor sucroenergético, o produtor entregará seu produto final que, para a indústria, é inicial. Para tanto, a relação de remuneração do produtor termina no exato momento em que ele vende a cana, e não obtém mais lucros após o processamento.
Para entender a complexidade de mensuração da matéria prima que vai gerar o valor de remuneração do produtor, Celso Albano Carvalho, gestor executivo da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil), explicou como o pagamento é feito ao setor que gera matéria prima para o açúcar doméstico e combustível, por exemplo.
“O preço que temos hoje foi estipulado há muito tempo. Antigamente se pagava a cana por tonelada bruta, mas isso mudou quando notaram a diferença energética que existe na planta. Assim se iniciou o pagamento de cana pelo teor de sacarose, ou PCTS”, conta.
Outros fatores tornaram-se parâmetro para o pagamento, explicou Carvalho, como pureza, fibra e açucares. “Baseado nisso criou-se um conselho para fazer a análise do comportamento do produto. Ele cunhou uma metodologia complexa de remuneração do produtor, mas que é dominada pelo setor.”
Consecana
Responsável por reunir os interesses de representantes dos produtores rurais de cana-de-açúcar e de usinas de açúcar e destilarias de álcool, o Consecana (Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol) sugere o preço base do produto de acordo com o comportamento recente do mercado.
“A complexidade desse sistema chegou a um porto de torna-lo o melhor mecanismo – e talvez mais transparente – de pagamento da matéria prima”, explica o gestor. Com o tempo, ele observa, a história do setor sucroenergético mudou, acatando em uma necessidade de mudança na remuneração do produtor.
“Tivemos automatização da plantação, uma melhor eficiência de extração do açúcar e uma qualidade melhor na quantidade dessa substância. Então o produtor que tem melhor resultado de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) na sua cana sai em prejuízo”, relata Carvalho.
O gestor cita ainda a economia como fator que pode prejudicar o pagamento feito ao produtor. Com o grau de endividamento do setor em alta e o arrendamento de terras, o pagamento baseado na tabela da Consecana criou uma armadilha para si.
Ainda nessa questão, o Conselho paga ao produtor a quantidade de extração de açúcar da cana por área alugada. Quando uma revisão da tabela acontece, toda a folha de pagamento é alterada, deixando a produção onerada e uma dívida com o dono das terras.
Alternativa
Segundo Carvalho, ainda não é feito um plano que traga uma remuneração ao produtor de forma mais justa. Entretanto, a Orplana estuda formas de mostrar aos profissionais os reflexos da defasagem no setor canavieiro.
“Em conjunto com o Pecege, fizemos um trabalho indicando uma média de 15% de diferença nesse pagamento. Ou seja, se eu tenho um custo de produção de 100 reais, devo receber por ela, no mínimo, esse mesmo valor”.
O que acontece, acrescenta, é que o valor recebido é apenas de 85 reais. “Isso gera um cabo de guerra entre o produtor e a indústria, que não pode ficar sem esse insumo”, comenta.
O gestor lembra que nenhum lucro após a venda para indústria é passado ao produtor, inclusive o aumento no preço de seus derivados. Todo o processo de lucro é inerente apenas da compra feita pela indústria.
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